Expatriado

Esta concretizada mais uma transferencia estrondosa do futebol portugues. Depois da ida de Bernardo Vasconcelos (filho do ex-medico do Benfica) para o RKC Waalwijk (aqui da Holanda) e da contratacao do nao menos carismatico Joao Manuel Pinto para o Ciudad de Murcia da segunda Divisao Espanhola, eis que eu proprio me transfiro do glorioso e insufismavel Grupo Desportivo "Os Lusiada" para o Germinal de Roterdao.
As condicoes para a pratica desportiva na Holanda sao formidaveis. A equipa principal do Germinal esta na quarta divisao de amadores (existem tres profissionais). O clube tem treinador e treinador adjunto, campo relvado, cabines bastante razoaveis e ainda oferecem jantar aos jogadores no final do treino. A unica condicao para jogar e pagar uma taxa anual.
Resultado: Como o Germinal tem duas equipas para alem da principal, por muito perneta que eu seja (e sou bastante) e garantido que para alem dos treinos tambem vou poder jogar.
Vai ser positivo deixar o perfume do futebol portugues pelos campos relvados da Holanda...

Citando o carismatico Jose Cid, fara sol no meu pais?

Este podia ser o nome de uma das rubricas do Expatriado.
Uma das principais contrariadades de andar emigrado e a natural falta de muitas das coisas que nos fomos habituando a ter. Emigrar acarreta sempre uma certa dose de desenraizamento.
Isto e tambem uma vantagem. Para alem de nos vermos livres de uma serie de coisas que nao gostamos, a distancia permite-nos olhar os acontecimentos nacionais com outros olhos… Pelo menos a maior parte das vezes.
Veio-me isto a memoria devido aos acontecimentos dos ultimos dias. A procura de informacao (a morte do Feher abalou-me tanto como a generalidade do pais) levou-me ao Café Lisboa, centro da lusofonia em Roterdao, para ver o Telejornal.
Se segunda-feira pouco mais vi, ontem ainda acompanhei brevemente outras noticias. E foi delicioso ver o caso do dinheiro do fisco que aparentemente o Ministerio da Justica reteve ilegalmente.
Falaram quatro senhores: Um Secretario de Estado (jurista, como o proprio fez questao de afirmar) e tres deputados (um do PS, um do PCP e outro do BE). Senhores da mais alta formacao, a quem confiamos os destinos da nacao. E foi triste ficarmos no café a olhar uns para outros, depois do sr. Secretario de Estado ter dito que nao se tinha passado nada de ilegal (sem explicar porque) e os senhores da oposicao a dizer que era tudo illegal (sem explicarem porque) e que a culpa era do primeiro-ministro (va-se la saber porque).
Resultado? Concluimos rapidamente que coisa boa nao deve ter sido feita mas que se estivermos a contar com a oposicao ou o parlamento para esclarecer o que se passou tambem estamos feitos…
As vezes e bom estar afastado destas coisas….

Este e um post que foge ao que habitualmente se pode ler no Expatriado. Mas infelizmente foi algo que marcou o meu fim-de-semana emigrado. Profundamente.

Vi o jogo no Cafe Lisboa. Como sempre. E tudo correu bem ate aquele minuto em que o Feher caiu. A principio, acho que ninguem percebeu muito bem o que se passou. O Benfica tinha marcado pouco antes e por isso o Café estava animado… Foi justo ou nao? A bola tinha ou nao saido antes do cruzamento?

De repente, foi o silencio. Primeiro todos tentamos perceber o que se passava. O grande choque foi quando vimos as primeiras imagens das tentativas de reanimacao do Feher. Muitos, como eu, estavam com os olhos brilhantes.

Depois, o café foi esvaziando. Lentamente e em silencio. Alguns ficaram, queriam saber as noticias. Foi isso que me custou, foi ai que pela primeira vez me senti emigrado. Foi dificil ir para casa e ficar sem noticias. Os canais internacionais ainda davam qualquer coisa mas nada muito concreto.

Tinha pouca esperanca que o Feher sobrevivesse. O pior era mesmo estar sem noticias. Nao saber se ele estava a recuperar, se nao estava. Liguei para Portugal. Ainda nao se sabia de nada. E verdadeiramente angustiante querer-se saber qualquer coisa e nao conseguir.

Pouco depois, confirmava-se a morte de Miklos Feher. Jogador do Sport Lisboa e Benfica. Fica aqui a minha sentida homenagem.

Hoje tentei ligar para o Consulado de Portugal em Roterdao para saber qual a papelada necessaria para ser um emigrante oficial.
Infelizmente, estava fechado. Motivo: A greve da funcao publica. Aqui, a adesao foi de cem por cento… E engracado ler sobre a greve sem ter que ouvir os sindicatos e o governo a discutir qual foi a adesao da greve. O que eu gostava mesmo de saber era se aqueles administradores hospitalares que foram brutalmente aumentados nos ultimos dias tambem fizeram greve...
Enfim, segunda-feira volto a tentar ligar para o consulado. Bom fim de semana!

Hoje comeca o Festival de Cinema de Roterdao. O centro da cidade esta um bocadinho mais animado que o costume. Tem dois filmes portugueses, o "Vai e Vem" o falecido Joao Cesar Monteiro e uma curta-metragem de Joao Carilho de seu nome "Anonimo".
De resto, e uma organizacao tipicamente holandesa... E tudo a grande! Com a piada de haver filmes do festival em quase todos os cinemas de Roterdao (que tambem sao so 5 ou 6...).
Os mais cinefilos podem apressar-se ou marcar visita para a mesma altura do proximo ano... Por mim, vou ver se vejo um filmezito ou outro... Tem e que ser falado em ingles... Ou ter legendas... Depois digo como correu...

E a comida nacional. Aqui come-se tudo com batatas fritas e batatas fritas com tudo. A cantina do trabalho e um bom exemplo. Tenho um colega brasileiro que um destes dias comeu o prato principal (na maior parte das vezes completamente intragavel) so porque era com arroz. Ele nem viu o que la havia mais porque se estava a babar com o arroz…
Mas voltando as batatas fritas…. No prato, ha-as de todas as formas e feitos. Palitos, cubos e rodelas rivalizam com aquelas em forma de bolinha pequenina…
Mas a predilecao dos holandeses (e dos flamengos em geral se nos lembramos do Asterix) pelas batatas fritas ve-se sobretudo na rua.
Em diversas esquinas vendem-se “Verse Patate”, que e como quem diz batatas frescas. Podem vir acompanhadas de maionese, ketchup ou uma variadade imensa de outras molhangas desconhecidas. E entao e ve-los a comer batatas pelas ruas e pracas da Holanda, nas estacoes e nos comboios, faca chuva ou faca sol, a qualquer hora do dia ou da noite.
Obviamente que eu ja me rendi a este habito medonho… E bem boas que sao as batatinhas…

Fim de semana foi tempo de descobrir Haia. Haia (em ingles The Hague e em Holandes Den Haag ou, melhor ainda, ‘s-Gravenhage) e a sede de governo da Holanda, embora a capital seja Amsterdao. Alias, fica a sugestao para Portugal… A capital continuar a ser Lisboa mas mudava-se a sede de Governo para a Madeira… Assim como assim isso ja e uma republica das bananas e conseguiamos resolver simultaneamente o problema dos Ministerios no Terreiro do Paco…

Voltando a Haia, esta e uma cidade que sem duvida merece uma visita. Para ja, esta localizada a apenas 20 minutos de Roterdao mas consegue ser completamente diferente desta: Mais pacata, mais sossegada, um bocadinho mais historica. Alem disso, visita-se bastante bem a pe e tem dois ou tres nucleos centrais muito interessantes.

Visitamos ainda o Mauritshuis, um museu exclusivamente dedicado a arte flamenga e onde se destacam as obras de Vermeer, Rubens e Rembrandt, onde observamos originais de algumas das mais conhecidas obras-primas da pintura mundial, tais como esta Licao de Anatomia.

Haia e ainda uma cidade onde se respire a historia do Pais. Entre estatuas, monumentos e o proprio parlamento, sao varias as referencias a diferentes periodos historicos da Holanda.

Amigos, e de visitar. Talvez tenham mais sorte que eu e consigam ate ver o Milosevic...

Descobri ontem que tenho uma coffeshop a 50 metros de minha casa. Ainda por cima esta e daquelas com bom aspecto. Parece uma leitaria… Que e o que os visitantes podem dizer as maezinhas que vieram ca visitar…

Sexta feira, mais um fim de semana que se aproxima… Em Roterdao, hoje e dia de compras. Eu explico. Aqui, as lojas fecham todos os dias as cinco ou seis horas. Como isto e povo que trabalha, fazer compras durante a semana torna-se por isso complicado. Para contornar esse problema eles lembraram-se de deixar as lojas abertas a sexta-feira ate as nove da noite…
Resultado? A maior parte das pessoas saiem a rua e divertem-se a gastar dinheiro. Sim, porque ainda nao tenho a certeza se se confirma o boato de que os holandeses sao forretas…
Investigarei e contarei a historia em futuro post. E acho que tambem preciso de falar sobre as batatas fritas… Bom fim de semana!!!

Ate onde irao os navegadores portugueses?

Correm devagar os dias em Roterdao... E nestas alturas que me lembro que vim ca para trabalhar e que so vou poder laurear a pevide (como e que se traduzira isto para ingles?) dois dias por semana.
Entretanto, ja comecaram as aulas de Holandes. Esta coisa nao e muito diferente do Ingles quando se trata de ler... Agora falar, esta quieto...
O que mais me irrita e que mais tarde ou mais cedo vou abandonar este pedaco de terra abaixo do nivel do mar, por isso quaisquer ensinamentos que possa levar desta lingua do demonio serao pura e simplesmente inuteis...
Enfim, ha coisas piores na vida...

Ja sou quase um holandes. Comprei uma bicicleta. Uma nao, duas, que e para passear mais a cara metade.
Dentro de cada holandes existe um Eddie Merckx em potencia (eu sei que ele era belga mas por estes lados belgas e holandeses vai dar tudo ao mesmo). E ve-los a pedalar com a familia atras, ao lado e a frente, todos na mesma bicicleta ou cada um na sua, com bebes, caes, compras, mobilia... Um ve-se te avias…
Ainda pedalei pouco… Dei so umas voltinhas… Mas ja encarnei o espirito Joaquim Agostinho… E insultei um taxista que nao me deu prioridade…

O ano que agora comeca traz a esperanca de receber visitas vindas da Patria amada. Familiares, amigos, conhecidos mais os/as respectivos acompanhantes e animais de estimacao sao sempre benvindos. Afinal, ajudam a matar a saudade daquilo que ficou para tras e com sorte trazem uma garrafinha de tinto, que e algo que escasseia nos Paises Baixos.
Chegar de Portugal a Roterdao e um pulinho. Os navegadores portugueses usaram os dois metodos tradicionais: De carro, percorrendo os 1849 km de Vilar Formoso ao centro de Roterdao e de aviao, via Aeroporto de Amsterdao (Schiphol) e depois comboio.
Existem contudo meios mais em conta. Para os que queiram vir fica a sugestao de virem via Bruxelas. Ha voos de Lisboa bem baratos (companhias light) e a viagem de comboio e so uma hora e meia. E sempre podem dizer que visitaram dois paises...
Fica a sugestao... E o convite.

Uma das coisas que de vez em quando me deixa a pensar e a dificuldade que teria em explicar certas coisas ao meus colegas holandeses… Ocorreu-me este pensamento com a historia das marmitas para os funcionarios da Camara Municipal do Porto. Eu sei que a CMP apenas esta a tentar fazer reviver o secular habito portugues da marmita, essa verdadeira instituicao nacional tantas vezes menosprezada. Mas como raio e que eu dizer a um bando de holandeses que um entidade patronal fechou o sitio onde os empregados comem mas que se propoe a levar comidas em marmitas!!! Sera que se diz marmites?
Isto ja para nao falar na dificuldade que seria explicar o que e o Alberto Joao Jardim….

Ontei fui ao Euromast… E assim genero a Antena de Monsanto mas maior e da para ir la acima…
Dizem que tem 185 metros… Primeiro sobe-se aos cento e dois… Ve-se a vista, eles dizem que se consegue ver a Belgica nos dias bons, apanha-se um bocadinho de ar, tiram-se umas fotografias…
Para subir ate ao topo, vai-se num brinquedo que pretende imitar a descolagem de um space shuttle… Aquilo treme, apita, abana e depois sobe a rodar… A vista tambem e mais gira…
Enfim, acho que e recomendavel aos visitantes. Dou-lhe quatro estrelas no Guia Expatriado. Fica-se com uma boa ideia de Roterdao e da sua exuberante arquitectura. No fundo, e catita…

Ainda aqui nao foram contadas as peripecias de fim de ano em Roterdao…
Tinhamos planeado (a falta de melhor) em passer a meia noite na tasca mais barata que encontrassemos… O bando em causa compreendia quatro portugueses, quatro italianos e um dinamarques…
Como houve alguem que se atrasou, acabamos por passar a meia noite no centro de Roterdao, numa praca mais ou menos deserta e com temperaturas negativas…
O mais curioso da historia e que na Holanda (e ao que parece noutros paises da regiao), em vez de haver um fogo de artificio (grande, bonito, organizado), a coisa e mais na base do “Cada um traz o seu”.
Ou seja, cada holandes compra bombas, bombinhas, estalinhos, foguetes, foguetinhos, um sem fim de material explosivo… Que vai rebentando ao longo da noite, culminando nas doze badaladas com um rebentamento geral… A serio, parecia um bombardeamento…
Nos dias anteriores, os Holandeses faziam um ar surpreendido quando os tugas lhes perguntavam se isso nao era um bocado perigoso…